"O veneno nosso de cada dia*"
Fazer um prato colorido, cheio de frutas, legumes e verduras, já não é mais sinônimo de alimentação saudável. Em função do uso intensivo e crescente de agrotóxicos, o consumo de certos produtos pode representar, em vez de benefícios, a gênese de doenças em longo prazo.
Cada brasileiro consome cerca de 5 quilos de venenos agrícolas por ano, Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Hoje o ser humano está sujeito, desde o seu nascimento até a sua morte a entrar em contato com substâncias químicas perigosas. Tais substâncias ficam alojadas no solo contaminando todo tipo de vida existente, peixes, minhocas, ovos de pássaros, homem, leite materno, feto, etc.
A contaminação é tanta, que os cientistas pesquisadores, declaram quase impossível encontrar indivíduos que não estejam contaminados por tais substâncias. Fruto da Segunda Guerra Mundial, indústrias criavam substâncias para uma guerra química, e notaram que, algumas dessas substâncias eram letais para os insetos, pois os mesmos eram usados como teste. O resultado desta descoberta foi uma fonte interminável de pesticidas sintéticos, que por serem feitas pelo homem (recompondo as moléculas de carbono, combinações quase que infinita) são totalmente diferentes dos pesticidas mais simples, inorgânicos usados antes da Guerra, que eram derivados de Minerais e de produtos extraídos das plantas.
Os pesticidas sintéticos podem:
- Destruir enzimas que protegem o corpo contra danos;
- Impede o funcionamento de vários órgãos;
- Impede o processo de oxidação de que o corpo recebe a sua energia;
- Modifica lentamente e irreversivelmente as células, que conduzem a enfermidades malignas.
A cada ano acrescentam mais substâncias, e cada vez mais mortíferas, nos EUA, a produção de pesticidas em 1947 era cerca de 60 mil toneladas e em 1960 subiu cerca de 320 mil toneladas, e isso é só o começo. A Segunda Guerra Mundial foi o ponto em que o mundo se afastou das substâncias inorgânicas, como pesticidas, e entrou no mundo da molécula de carbono, mas ainda são usadas certas substâncias químicas, como o arsênio.
ARSÊNIO – ingrediente básico para recursos matadores de ervas daninha e insetos. Muito tóxico, ocorre em abundância em diversos metais, e em uma menor quantidade em vulcões, mar e nas águas de fonte. A relação desta substância com o homem varia pela historia:
- Agente preferido de homicídio muito antes até dos Bórgias.
Esta substância foi o primeiro carcinógeno elementar identificado na fuligem de chaminé e relacionado ao câncer pelos ingleses cerca de dois séculos. Cavalos, vacas, cobras, porcos, renas, peixes e abelhas são vítimas de contaminação ambiental. Ainda é utilizado por toda parte por borrifamento e lançamento de pó. No Sul dos EUA é comum o borrifamento, a criação industrial de abelhas quase que desapareceu pela contaminação, fazendeiros são um objeto de envenenamento crônico, tanto como animais domésticos e pecuários, e a vizinhança, devido à nuvem da pulverização carregada pelo vento.
Os inseticidas modernos são ainda mais mortíferos, sua vasta maioria entram em dois grupos:
- Hidrocarbonetos Clorados – Organoclorados, DDT, Clordana, Heptacloro, Dieldrina, Aldrina, Endrina. Organofosforados, Malathion e o Parathion;
O CARBONO é o elemento básico, como já citado pode se unir a outros átomos quase que infinitamente. A complexa molécula da proteína tem o carbono como base, o mesmo para as moléculas de gordura, dos hidrocarbonatos, das enzimas e das vitaminas. Alguns compostos orgânicos são simplesmente combinações de carbono e hidrogênio, por exemplo, o metano, que é um átomo de carbono com quatro átomos de hidrogênio, se retirar uma das moléculas de hidrogênio e acrescentar o cloro, esta molécula se torna o metilo, substituindo por mais uma molécula de cloro, passa-se a ser clorofórmio anestésico, por mais uma, torna-se tetracloreto de carbono – o conhecido fluido de limpeza – estas modificações, ilustram apenas uma pequena ideia da verdadeira complexidade química dos hidrocarbonetos (organoclorado). Mas invés da simples molécula de metano constituída somente por uma molécula de carbono e quatro de hidrogênio, os hidrocarbonetos constituem muitos átomos de carbono e muitas outras moléculas de diversos grupos químicos.
HIDROCARBONETOS CLORADOS – ORGANOCLORADO: inseticidas compostos por Hidrocarboneto Clorado – Organoclorados (HCC) atravessam a placenta (proteção contra substâncias tóxicas) fazendo com que a criança seja sucessível á se contaminar, e causa o aparecimento de hepatites.
DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano)
Sintetizado em 1874, por um químico alemão, as suas propriedades pesticidas foram somente descobertas pelo suíço Paul Muller. Acreditava-se que o DDT era inofensivo, pois era de uso constante dos soldados na guerra para controle de piolhos, e os mesmos não sofriam dano algum. Isto é compreensível pelo fato de o DDT em forma de pó, não é simultaneamente absorvido pela pele (diferente de outros Hidrocarbonetos Clorado – Organoclorado), mas dissolvidos ao óleo é altamente tóxico, e se engolidos, dissolvem na gordura do próprio corpo, mesmo digerido em uma quantidade muito pequena que normalmente acontece nos alimentos, pois a gordura é utilizada como um amplificador biológico, tanto que em poucas quantidades o efeito é tão grande que pode degenerar o fígado por exemplo.
Uma parte por milhão na dieta (depósito de gordura) resulta no armazenamento de dez a quinze partes por milhão de DDT. Isto soa como insignificante, mas três partes por milhão, inibem uma enzima essencial, no músculo do coração; cinco partes por milhão bastaram para provocar necrose ou desintegração das moléculas de fígado e não menos ou mais que duas partes por milhão e meia, de substâncias químicas relacionadas com o DDT, que são a Dieldrina e a Clordana para produzir igual efeito.
Estudos apontam que indivíduos que nunca tiveram contato (não diretamente) a estas substâncias, armazenam em média de cinco a sete partes por milhão; trabalhadores agrícolas dezessete partes por milhão e operários que trabalham em fábricas de inseticidas, 648 partes por milhão.
Campos de alfafa são polvilhados com o DDT, o alimento é preparado com a alfafa e é dado para as galinhas, e posteriormente botaram ovos que conterá o DDT. Já os capins contendo o DDT são ingeridos pelas vacas e será coletado o seu leite, que posteriormente será feito manteiga ou queijo.
Estes exemplos dados mostram que essas quantidades de DDT sempre são multiplicadas ao decorrer de certos processos.
CLORDANA – É absorvido pela pele (aspirada, borrifo) e muito persistente por muito tempo em solos, alimentos e superfícies em gerais. 2,5 partes por milhão pode conduzir ao armazenamento de 75 partes por milhão. A contaminação com 25% na pele causa morte em 40minutos.
HEPTACLORO – Esta substância tem uma capacidade enorme de se armazenar em gordura. Constituinte da Clordana, vendida na forma de formulação separada. Essa substância pode transformar-se em uma substância química diversa, EPÓXIDO DE HEPTACLORO, faz isto no solo e nos tecidos animais e vegetais, o Epóxido que resulta nessa transformação é mais tóxico que a substância original, e quatro vezes mais tóxica do que a Clordana.
INSETICIDAS MAIS VIOLENTOS
DIELDRINA – Cinco vezes mais tóxica do que o DDT quando engolida. É de quarenta ha cinquenta vezes mais tóxicos quando absorvida pela pele, em solução. Ataca o sistema nervoso colocando a vitima em convulsões. Frequentemente usado pelo seu potencial.
ALDRINA – Quando aplicada e ao entrar em contato com a pele e o solo, verifica-se que há resíduos de Dieldrina, isso gera muito equivoco sobre a Aldrina ao pensar que essa se dissipou, mas ela ainda esta presente na forma de Dieldrina. Causa esterilidade, a prole nasce e morre ou simplesmente nasce morta.
ENDRINA – Mais tóxica dos HCC, cinco vezes mais tóxica do que a Dieldrina. Embora seja muito parecida, mas uma leve distorção na sua forma molecular ela se torna mais tóxica. Sendo 15 vezes mais tóxicos para mamíferos, 30 vezes para peixes e 300 vezes para aves.
ORGANOFOSFORADOS – É o segundo dos principais grupos de inseticida, figura entre as substâncias químicas mais tóxicas do mundo. O risco mais óbvio é de seu uso em borrifos ou pulverização, e atua no organismo vivente por uma forma peculiar, em condições normais, um impulso passa de nervo a nervo com o auxilio de um transmissor químico denominado acetilcolina, depois é destruída pela colinesterase, uma enzima protetora criada pelo corpo para que estabeleça um equilíbrio exato, e o corpo nunca produz quantidades perigosas de acetilcolina. Os compostos de fósforo orgânico assemelham-se ao veneno alcalóide encontrado em um cogumelo venenoso.
- Parathion (Paratião) – Grupo dos fosfatos orgânicos atua peculiarmente nos organismos viventes, destrói enzimas do sistema nervoso causando convulsões, espasmos musculares e a morte. O que nos salva da extinção, é o fato de que o Paratião se decompõe de maneira muito rápida, se compara com a duração dos resíduos dos Hidrocarbonetos Clorados.
- Malathion (Malatião) – Parecido com o DDT, considerado inofensivo porque em animais não surte efeito, mas isso ocorre porque seus fígados produzem enzimas tão poderosas que ocorre a desintoxicação, e se o animal estiver com tais enzimas destruídas o efeito é simplesmente mortal. E muitas pessoas até mesmo encorajadas por propagandas comerciais, usam destas substâncias.
A mistura destes fosfatos orgânicos tem um efeito mortal, pois uma atua com a eliminação das enzimas protetoras e a outra com a destruição do organismo.
Os inseticidas têm a capacidade de penetrar em todos os tecidos de plantas, ou de animal e de fazê-los tóxico. Esta propriedade é possuída por algumas substâncias químicas do grupo dos Hidrocarbonetos Clorados e também por substâncias, pertencentes ao grupo dos organofosforados, todos sinteticamente produzidos.
A lenda segundo o qual os herbicidas são tóxicos apenas para as plantas, e assim não constitui ameaça alguma á vida animal, não é uma verdade. Os herbicidas, os matadores de plantas, compreendem grande variedade de substâncias químicas que atuam sobre os tecidos dos animais, e vegetais. Existem vários herbicidas usados pela humanidade, e existem alguns que são classificados como mutagênicos, ou seja, capazes de modificar os genes, o material que por meio dos quais se transmite a hereditariedade.
"Nós nos sentimos justamente apavorados em presença dos efeitos genéticos das radiações, como podemos assim, ficar indiferentes aos mesmos efeitos produzidos por substâncias químicas que disseminamos amplamente pelo nosso meio ambiente?” (Rachel Carson).
Opinião Critica
O Brasil é o primeiro colocado no ranking mundial do consumo de agrotóxicos, mais de 1bilhão de litros de venenos foram jogados nas lavouras em 2010, de acordo com os dados do Sindicato Nacional de Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola.O uso exagerado de agrotóxicos deixou de ser uma questão de produção agrícola para se transformar em problema de saúde publica e preservação da natureza.
Segundo entrevista do Doutor de Saúde Pública e Professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Wanderlei Pignati dada a Revista Galileu, afirma que não existe uso seguro para o uso de agrotóxicos, e explica por que o Brasil é o líder do ranking de utilização dessa substância.
“É uma somatória de razões. A mais óbvia é que somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, de soja principalmente. Outra é que nossas sementes melhoradas já são pensadas para usar agrotóxicos. São selecionadas até certo ponto em que, realmente, dependem destes produtos. E, para dar a produtividade que se espera, demandam grandes quantidades. Em terceiro lugar, não temos mais pragas, mas, por usarmos agrotóxicos há tantos anos, nossas pragas ficaram mais resistentes. É um espiral que vai aumentando.”
Em outros países (Europa, por exemplo) limitam o uso de agrotóxicos mais tóxicos, e vale ressaltar que a conscientização da população europeia cobra dos agricultores e do governo medidas de segurança sobre o uso dessas toxinas. No Brasil, por exemplo, um quilo de soja pode ter 10mg de glifosato, sendo que na Europa o uso é de 0,2 mg da mesma substância.
As lavouras que mais utilizam agrotóxicos são por hectares de algodão, que são fabricados roupas e suas sementes são usadas para ração de gatos e outros animais em segunda escala são as de tomate, morango, hortaliças em geral, soja e milho.
De acordo com estudos da Academia Nacional de Ciências, afirma que as exposições aos pesticidas permitidos por Lei em alimentos provocam de 4 a 20 milhões de casos de câncer por ano nos EUA.
O Professor da UNEB-Universidade do Estado da Bahia Paulo Augusto da Costa Pinta em entrevista para o site Ciências e Cultura em 29/03/12 afirma que:
“Existem outras formas de produzir alimentos de forma segura, sustentável e sem uso de agrotóxicos. No Brasil em 2006 já dispunha de 800ha e 15mil produtores com agricultura orgânica sem veneno. No mundo são mias de 35 milhões de hectares com orgânicos, sendo uma prova de que é possível produzir de forma sustentável, comprometida com a preservação de vida no Planeta”.
A empresa Bug Agentes Biológicos, com sede em Piracicaba, no interior paulista, atua no controle biológico de pragas e desenvolveu um método eficiente para multiplicar insetos capazes de dizimar outros seres semelhantes que atacam plantações de cana-de-açúcar e outras lavouras.
No Brasil atualmente existe cerca de 70 empresas que comercializam 12 insetos e ácaros, além de dezenas de microrganismos. Essa atividade é eficiente para o combate de pragas que destroem as mais variadas plantações. “O controle biológico é uma das poucas medidas de controle de pragas que atende às exigências de uma agricultura sustentável, tão desejável no mundo”, diz o professor José Roberto Postali Parra, coordenador do Laboratório de Biologia de Insetos da ESALQ, e um dos maiores especialistas no tema no Brasil. Não é poluente, não intoxica agricultores, não atingem agentes secundários que possam desenvolver resistência. Os inseticidas não conseguem obter esses resultados e acabam geram desequilíbrios ambientais.
Mas entre os agricultores mais conservadores esses métodos ainda encontram resistência, mesmo sendo mais seguro e barato que os agrotóxicos, talvez por que o controle biológico atua de forma mais lenta.
O controle biológico pode substituir o uso de produtos químicos no combate de muitas pragas com algumas vantagens. “O controle químico é sabidamente responsável por problemas de contaminação, seja ao ambiente, seja ao homem ou aos polinizadores. Com o controle biológico não existem problemas de desequilíbrio, de contaminação da água, do solo e do homem. Os alimentos não são prejudicados”, garante José Roberto.
Vídeo Documentário
Após impactar o Brasil mostrando as perversas consequências do uso de agrotóxicos em O Veneno está na Mesa, o diretor Sílvio Tendler apresenta no segundo filme uma nova perspectiva. O Veneno Está Na Mesa 2 atualiza e avança na abordagem do modelo agrícola nacional atual e de suas consequências para a saúde pública. O filme apresenta experiências agroecológicas empreendidas em todo o Brasil, mostrando a existência de alternativas viáveis de produção de alimentos saudáveis, que respeitam a natureza, os trabalhadores rurais e os consumidores.
Com este documentário, vem a certeza de que o país precisar tomar um posicionamento diante do dilema que se apresenta: Em qual mundo queremos viver? O mundo envenenado do agronegócio ou da liberdade e da diversidade agroecológica?
Realização: Caliban Cinema e Conteúdo
Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida
Fiocruz
Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
Bem Te Vi
Cineclube Crisantempo
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Créditos a Elaine Cristina e Danilo Barbosa graduandos do Curso de Ciências Biológicas - UNIP
*Marie-Monique Robin – Documentário Notre Poisson Quotidien, França, 2010, 113 minutos
Referencias e Fontes:
Resenha do Livro Primavera Silenciosa - 2º Edição – Capítulo 3 – Elixires da Morte –Página 25 a 47.
Autora: Rachel Carson
Revista Pesquisa Fapesp